Pirueta fouetté: planejamento e consciência musical
A diferença entre uma execução meramente técnica e uma interpretação verdadeiramente artística.
Os fouettés são tradicionalmente realizados sobre músicas em compasso quaternário (4/4) ou binária (2/4, 2/2) e especialmente no momento da coda do Grand Pas de Deux. Nesses tipos de compasso, há uma alternância entre tempos fortes e fracos que estruturam a pulsação musical.
No compasso 4/4, o primeiro tempo do compasso é geralmente o mais forte, seguido de um segundo tempo mais leve, um terceiro meio forte e um quarto fraco que antecipa a repetição da sequência.
No compasso 2/4 ou 2/2, o primeiro tempo é geralmente o forte e o segundo tempo fraco.
Essas estruturas estruturam o senso de direção e energia ao movimento, ajudando a bailarina a manter o controle, o foco da cabeça/olhar e a e a dinâmica do movimento.
Cada giro do fouetté deve ser sincronizado com essa pulsação rítmica. A sequência idealizada é a seguinte:
1️⃣ Primeiro tempo (forte): A bailarina deve estar no PLIÉ, preparando o impulso do giro. Esse momento é crucial porque é quando a energia do movimento é acumulada. O plié precisa ser estável e bem sustentado para que o giro seguinte seja seguro e controlado.
2️⃣ Segundo tempo (leve ou fraco): A perna de base estende e a bailarina inicia o giro com força a partir do eixo do quadril, puxando os braços para dentro e recolhendo a perna que estava aberta na preparação. Esse é o instante em que o corpo ganha velocidade.
3️⃣ Terceiro tempo (moderado ou meio forte) do compasso em 4/4 ou o primeiro tempo do novo compasso quando em 2/2 ou 2.4: A rotação continua e a perna de trabalho, que havia sido recolhida para a posição de passé, começa a se abrir novamente para o lado, enquanto a perna de base realiza novamente o plié. Esse momento deve ser fluido e natura, porém com foco e força para que a bailarina não perca a estabilidade.
4️⃣ Quarto tempo (fraco ou leve) do compasso em 4/4 ou o segundo tempo do compasso binário (2/2 ou 2/4 - fraco ou leve): A perna atinge sua máxima abertura lateral e começa a voltar para a posição em passé/retiré, iniciando o próximo giro. Esse instante é fundamental para que o movimento mantenha sua uniformidade e para que a bailarina não se atrase em relação à música.
Essa organização permite que os fouettés se encaixem perfeitamente na estrutura da coda. Quando bem executados, cada giro cria um efeito visual marcante, pois a perna de trabalho se abre como um chicote sempre no mesmo ponto da contagem musical, reforçando a simetria e a precisão do movimento.
Você já assistiu a esse vídeo explicando a física por trás das piruetas fouettés? Vale muito à pena!
A relação entre o andamento e o estilo
O andamento musical escolhido pelo maestro em consonância com o coreógrafo e a bailarina que irá executar a movimentação irá impactar diretamente na estética do movimento.
Um andamento mais lento permite que a bailarina enfatize no controle, demonstrando cada fase do giro com clareza. Por outro lado, um andamento mais acelerado gera uma sensação de urgência e dinamismo, aumentando o impacto dramático da sequência.
Bailarinas como Natalia Osipova e Svetlana Zakharova, por exemplo, são conhecidas por preferirem andamentos mais rápidos, conferindo um caráter eletrizante à performance. Já outras, como Marianela Nuñez e Alina Cojocaru, optam por execuções mais controladas, valorizando a forma e a harmonia musical.
Perceba, nos vídeos abaixo, a diferença de andamento nas performances de Marianela Nuñez e Natalia Osipova:
Pequenas alterações no andamento musical garantem que a bailarina tenha o tempo necessário a seu condicionamento e trabalho técnico para completar os giros sem comprometer a musicalidade. Além disso, algumas bailarinas utilizam estratégias para distribuir melhor sua energia ao longo da sequência, como alternar séries de fouettés simples com duplos ou triplos, aproveitando tempos musicais mais longos para sustentar o movimento sem perder estabilidade.
Esse nível de planejamento e consciência musical é um dos fatores que diferencia uma execução meramente técnica de uma interpretação verdadeiramente artística.
A pirueta fouetté, longe de ser apenas uma demonstração de virtuosismo, é um elemento que dialoga diretamente com a música, elevando o impacto cênico e emocional da performance.
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